terça-feira, 28 de maio de 2013


Manoel Xudú


Cultura Nordestina

terça-feira, 11 de outubro de 2011

0MANOEL XUDU REPENTISTA NORDESTINO

poeta Manoel Xudu Sobrinho, Manoel Xudu, ou, simplesmente, Xudu, nasceu em São José de Pilar-PB em 15 de março de 1932 e faleceu em 1985, em Salgado de São Félix, onde residia.











Improvisos de Manoel Xudu

Sou igualmente a pião
saindo de uma ponteira
que quando bate no chão
chega levanta a poeira
com tanta velocidade
que muda a cor da madeira.


Cantar pra Zé de Cazuza
pra Lourival, pra Heleno
é mesmo que matar cobra
com um cacete pequeno
pisar na ponta do rabo
sem se lembrar do veneno.


Deixe de sua imprudência
deixe eu findar a peleja
como é que eu posso cantar
tocar e tomar cerveja
cachorro é que tem três gostos
que corre, late e fareja. 


Me admira é o pica-pau
Comer miolo de angico,
Tem hora que é taco-taco,
Tem hora que é tico-tico,
Nem sente dor de cabeça
Nem quebra a ponta do bico. 


Minha mãe que me deu papa
Me deu doce, me deu bolo
Mãe que me deu consolo
Leite fervido e garapa
Mamãe me deu um tapa
E depois se arrependeu
Beijou aonde bateu
Acabou a inchação                       
Quem perde mãe tem razão
De Chorar o que perdeu.


                                                                  FONTE: JORNAL DA BESTA FUBANA

                                                              postado por tony josé terça-feira,11 de outubro de 2011
O Poeta Eduardo Rabello garimpou essa pedra rara:

Admiro um pica-pau
Numa madeira de angico
Que passa o dia todim
Taco-taco, tico-tico
Não sente dor de cabeça
Nem quebra a ponta do bico



Admiro 100 formigas
Um besouro carregando
40 puxa na frente
40 atrás empurrando
E as 20 que vão em cima
Pensam que estão ajudando

Manoel Xudú

Manoel Xudu ( A Lenda do Repente)

Uma resposta para Do poeta Manoel Xudú

  1. Esse Xudú na poesia/
    Faz coisa de admirar/
    Faz barata dar o brilho/
    Sem nunca verniz passaar/
    Faz galinha comer milho/
    Beber água e não mijar./
    ***********************

    //Anizio

Manoel Xudu, um gênio do povo

             Tenho grande simpatia e empatia com os personagens que tenham contribuído de alguma forma para o coletivo, que tenham dedicado suas vidas por uma idéia, uma causa, ou tenham consagrado sua inteligência à execução de uma arte. Os que se distinguem, os excepcionais, esses merecem a imortalidade. Os grandes artistas populares quase sempre são esquecidos por não terem traquejo social, prestígio ou militância política. Que devemos prestigiar nossos valores, de ontem e de hoje, é inquestionável. Organizei um livreto com o propósito de levar a cabo a missão de preservar um pouco da obra do grande Manoel Xudu, esse filho de São José dos Ramos que foi um dos maiores artistas que se conheceu na arte de improvisar versos ao som de uma viola.
Eu mal havia completado dezessete anos, e já freqüentava as barracas que vendiam cachaça, galinha torrada e macaxeira, na beira da linha, em Itabaiana. Essas barracas permaneciam abertas a noite toda, nas segundas-feiras, véspera da grande feira de Itabaiana, para onde convergiam centenas de matutos de toda região. Eram redutos de violeiros e emboladores de coco, que passavam a noite bebendo e divertindo a matutada. Foi ali onde conheci Manoel Xudu, a quem devo o favor da minha iniciação nos segredos da belíssima arte do improviso, a sextilha, o setessílabo, o decassílabo, a gemedeira, o mourão perguntado, o martelo alagoano, o mote, o tema e outros detalhes do mundo mágico dos cantadores repentistas. A cultura na sua mais pura forma de ser, os magníficos poetas repentistas com seus jogos de palavra e seu raciocínio veloz em torneios semânticos que, às vezes, duravam dias e noites.
Manoel Xudu merece constar na galeria dos grandes artistas populares do Brasil. Esse fenômeno da poesia popular divulgou em versos geniais os valores sociais, políticos, religiosos, culturais e econômicos de sua terra, nas tradicionais cantorias que foram, durante muito tempo, a educação informal principalmente das comunidades do campo.

             O saber do povo, a bem da verdade, sempre foi olhado com desconfiança pelas elites dirigentes. No entanto, hoje a obra de Manoel Xudu é estudada por pesquisadores da cultura popular. Louve-se a iniciativa da prefeitura de São José dos Ramos, de editar este livreto com o que de melhor produziu o poeta e foi gravado pela memória de alguns admiradores, além de versos de folhetos de cordel, como é exemplo a “Peleja de Manoel Xudu com Zezé Lulu”, publicado na íntegra neste opúsculo. Conhecendo-se a má vontade dos esquemas oficiais, quando se trata de apoio à produção artística e cultural dos pobres, damos graças aos deuses do Parnaso por São José dos Ramos ter um prefeito, Azenildo Ramos, amante da poesia e da cultura popular, ele que investiu na divulgação da história da vida e obra desse poeta simples, reconhecido hoje como um dos maiores repentistas de todos os tempos no Nordeste.
             Em um festival de poetas no Clube Astrea, em João Pessoa, pediram uma definição de poesia. Manoel Xudu saiu-se com este improviso:
“Poesia tão linda e soberana
E tão pura, tão branca igual a um véu...
Está na terra, no mar, está no céu
E no pelo que tem a jitirana.
Ela está em quem vive a cortar cana
Quando volta pra casa ao meio dia...
Está num bolo de fava insossa e fria
Que um pobre mastiga com lingüiça.
Está na paz, no amor e na justiça
O mistério da doce poesia.
Fábio Mozart
Enviado por Fábio Mozart em 26/05/2009
Código do texto: T1615251

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Sobre o autor
Fábio Mozart
João Pessoa/PB - Brasil, 57 anos
764 textos (50386 leituras)
(estatísticas atualizadas diariamente - última atualização em 28/05/13 08:11)
Os chamados, “ouvintes de cantoria”, que também são poetas, apesar de não fabricarem os versos, exercem, e como exercem, uma cumplicidade com os cantadores. Eles sabem das histórias dos poetas, declamam seus versos de pé-de-parede, passam pra frente além de ter um passado histórico de imortalizar os vates mais consagrados. Ainda tem um detalhe fundamental relacionado à categoria dos “ouvintes”: eles inspiram os cantadores no momento em que criam os motes já com uma dosagem forte de um poema. Quando Manoel Filó dá o mote: - Uma gota de pranto molha o riso/ Quando o preso recebe a liberdade. Ou então: - O espinho é o vigia/Da inocência da flor. Eis aí, uma possibilidade real do cantador se inspirar, para produzir “pérolas”.
Manoel Xudu Sobrinho foi um homem simples, generoso, eternamente, cavalheiro, incapaz de um ato ríspido, mesmo nas horas em que sua tranqüilidade corresse o risco de ser ameaçada. Nem por isso deixou de ser um poeta atormentado, de permeio, entre “o mundo e o nada”, o pranto e o riso. Natural da cidade de Pilar, na Paraíba, conterrâneo de José Lins do Rego e de João Lourenço, violeiro em plena atividade profissional.
“A obra de Xudu exige um conhecimento maior desse gênio do repente. Cada estrofe é um monumento de Arte, a expressar uma cascata de emoções que despenca em uma alma profundamente humanística”.
Xudu preenche as exigências da categoria, no que concerne, o cantador, o poeta, e o repentista. O cantador canta em qualquer estilo, atende ao mercado, espreita os acontecimentos diários. O poeta não se explica, graças a Deus! Tudo tende à emoção. É o Arquiteto dos sonhos e da metáfora. O repentista é simplesmente maravilhoso! É a marca registrada do repente. É quem pega o fato no ar, muitas vezes sem saber nem o que vai dizer. Ele pega de bote.
Xudu era tudo isso, dentro de uma simplicidade tamanha, ele abordava os temas mais profundos, com a maior presteza:
          A MULHER QUE EU CASEI
          ALÉM DE LINDA É BREJEIRA
          DAQUELAS QUE VAI À MISSA
          NO DOMINGO E TERÇA-FEIRA
          DAS QUE FAZ UMA SOMBRINHA
          COM UM PÉ DE CARRAPATEIRA.
A arte do improviso alimentava corpo e alma deste poeta, do “Pilar”. Bom tocador de viola, o que é um tanto raro dentre os repentistas. Ele e Severino Ferreira quando se deparavam, o “cancão piava”, no desafio só de viola. Gostava de uma “branquinha”. Meu Deus! Às vezes os próprios colegas o prendiam num quarto, até de motel, contanto que ele estivesse bom para o desafio noturno dos “Festivais”.
Xudu colocava a mulher em uma sextilha, onde ela era cúmplice dele, e ainda era quem dava a “chave”. Mas, isso não bonito?
          EU ESTAVA NA PRECISÃO
          QUANDO ME CASEI COM NITA
          NADA TINHA PRA LHE DAR
          DEI-LHE UM VESTIDO CHITA
          ELA OLHOU SORRINDO E DISSE
          OH! QUE FAZENDA BONITA!
Mas, por falar em mulher, nada melhor do que chamar Xudu. Claro, todos somos Freudianos:
          MAMÃE QUE ME DAVA PAPA
          ME DAVA PÃO E CONSOLO
          DAVA CAFÉ DAVA BOLO
          LEITE FERVIDO E GARAPA
          MAS UMA VEZ DEU-ME UM TAPA
          E DEPOIS SE ARREPENDEU
          BEIJOU AONDE BATEU
          DESMANCHOU A INCHAÇÃO
          “QUEM NÃO TEM MÃE TEM RAZÃO
          DE CHORAR O QUE PERDEU”.
E então? Veremos agora, o Xudu autobiográfico. Revelando uma trajetória de vida no sacrifício, na porrada. Particularmente, nunca tinha visto uma autobiografia, tão sincera, com todas as etapas da vida do poeta. Genial:
          DIA 13 DE MARÇO TERÇA-FEIRA
          ANO MIL NOVECENTOS TRINTA E DOIS
          POUCO TEMPO DEPOIS QUE O SOL SE PÔS
          MAMÃE DAVA GEMIDOS NA ESTEIRA
          NUMA CASA DE BARRO E DE MADEIRA
          MUITO HUMILDE COBERTA DE CAPIM
          EU NASCI PRA VIVER SOFRENDO ASSIM
          MINHA DOR VEM DOS TEMPOS DE MENINO
          VIVO TRISTE POR CAUSA DO DESTINO
          E A SAUDADE CORRENDO ATRÁS DE MIM.
Daqui vai um alerta para aqueles que conhecem outras versões de alguns versos que por acaso constem nesta matéria. É que, os próprios ouvintes de cantoria, os cantadores, os livros (e são muitos), têm versões diferentes, no que concerne às mudanças constantes nas linhas ou estrofes, ou até relacionados à autoria de um verso. Eu mesmo, já presenciei contradições de versos dentro da casa do próprio Lourival Batista, cuja autoria era atribuída a ele. Isso é literatura oral. Portanto, o mais importante, é que ao alterarem estrofes dos versos, nunca se fere o princípio básico do que o autor quis passar para os ouvintes. Na sextilha do poeta, João Paraibano: - Eu estava no sertão/ Balançando em minha rede/ Vendo o açude vazio/ Com dois rachões na parede/ E as abelhas no velório/ Da flor que morreu de sede. Pois bem, este açude, coitado! Nessas alturas, já vai com mais 100 rachões na parede...
Manoel Xudu tinha o olho biônico. Seus versos eram recheados de carinho, paixão, desde quando necessários. O mote que ele recebeu, foi o seguinte: Pode ir lá que está gravado/ O nome de Ana Maria:
          O NOME DA MINHA AMADA
          ESCREVI COM EMOÇÃO
          NA PALMA DA MINHA MÃO
          NO CABO DA MINHA ENXADA
          NO BATENTE DA CALÇADA
          E NO FUNDO DA BACIA
          NA CASCA DA MELANCIA
          MAIS GROSSA DO MEU ROÇADO
          “PODE IR LÁ QUE ESTÁ GRAVADO
          O NOME DE ANA MARIA.
E agora? Agora vamos terminar esse papo, com Manoel Xudu Kafkiano. Pôxa! E Xudu sabia o que era Surrealismo? Então, para os leitores mais engajados:
          A PRISÃO ONDE ESTAVAM OS CONDENADOS
          NA ANTIGA CIDADE DE BEZETA
          ERA TODA PINTADA À TINTA PRETA
          E TRANCADA POR FORTES CADEADOS
          GUARNECIDA POR TRINTA E DOIS SOLDADOS
          CADA UM COM DOIS METROS DE ALTURA
          E ALÉM DE SE LER A AMARGURA
          NO SEMBLANTE DAS MUDAS SENTINELAS
          QUEM OLHASSE PRAS GRADES DAS JANELAS
          TAVA VENDO O RETRATO DAS TORTURAS.


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