sexta-feira, 1 de março de 2013

A Herança de minha vó

Herança  de minha vó
Autor:  Cazuza Rufino – Belmonte-Pe


Eu vou contar  uma herança
De uma vó para um neto
De um casal bem unido
Ambos eram muito retos
eu como fui o herdeiro
Sou dono dos  objetos
Minha  vó adoeceu
Primeiro fez testamento
Que de seu apartamento
O herdeiro só era eu
Logo em vida ela  me deu
Um tacho velho furado
Um abano remendado
E um mulambo velho de cesto
Uma barrica sem texto
E um cuscuzeiro furado

Ela deixou uma cadeira
Com três pernas arrancadas
Uma casa velha escorada
Sem ter uma telha inteira
A asa de uma chaleira
E a chave velha da porta
Além de tá velha e torta
Enferrujada e demente
Eu fiquei muito contente
Quando vi a velha morta
Herdei um pé de macuca
Três espinhos de “quandú”  (porco-espnmho)
O bucho de um caititu
E dois limões em uma cumbuca
E mais um torrão de açúcar
Que de velho açucarou
E mais que ela deixou
O beijo de um jereré
Um moinho e um coité
E dois ovos de jaburu
Herdei mais um panicum(lençol amarrado que formava uma rede)
Que criou-se o velho dentro
Herdei 3 pés de coentro
De prato só herdei um
A banda de um jerimum
E um brinquinho de latão
Herdei uma mão de pilão
Dois birros e 4 alfinetes
Uma agulha e 2 colchetes
E uma cueca velha sem botão
Ainda se encontrou
Quatro galhos de marcela
Os beiços de uma gamela
Tudo para mim ficou
O mais que ela  deixou
Um cinto cheio de nó
Herdei mais um “urinó”
Furado e catingoso
Era um trastes mimoso
Da finada minha vó
Herdei um quartal famoso
Que só nele  falarei
Nunca negociarei
Por ser muito opinioso
Era um cavalo famoso
Desta forma que lhe digo
Nunca caiu em perigo
Nunca cansou de viagem
Era anima de coragem
E tinha bons sinais consigo
No queixo tinha um inchaço
Três bicheiras nas orelhas
Um jerimum na sarnelha
E quatro lubim no cachaço
Duas bexiga no espinhaço
E um nó no chambaril
Era nasco dum quadril
Pardo da vista morena
Cego da gota serena
Não podia desistir
Tinha um corredor triado
Coberto do arestin
Não comia mais capim
Os dentes tudo arrancado
Tinha os cascos rebitados
Sem poder tocar no chão
Na experiência do Galvão
Era rei dos animais
E pra completar os sinais
Quatro pram nas duas mão

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