O poeta boêmio e bonachão Renato Caldas, era funcionário público
aposentado pelo Poder Judiciário do Rio Grande do Norte, por onde
recebia um miserável salário, apesar da influência que ele tinha com
grandes nomes da vida
social, literária e política da terra potiguar. Pois bem. Certa vez, sem
dinheiro, Renato resolveu vender uma lâmpada Coleman (lampião a
querozene muito usado no Nordeste brasileiro, há uns cinquenta anos
atrás, nos lugares onde não tinha luz elétrica). Fato
este antes comunicado a sua mulher chamada Fausta, que logo se dirigiu
ao armazém de
Amaro Sena, vizinho a sua casa, para prevenir aquele comerciante que não
comprasse o lampião, se Renato chegasse a lhe oferecer. Dito e feito.
Renato foi ao
armazém de Amaro e, ao chegar naquele estabelecimento comercial,
ofereceu o
lampião por três mil cruzeiros (moeda da época). "Quero não, disse
Amaro". "Homem, me compre!" Com muita insistência Amaro comprou aquele
ojeto da seguinte forma: mil cruzeiros avista e o restante em duas
prestações (trinta e sessenta dias).
Negócio fechado, Renato recebeu os mil cruzeiros e, no primeiro cabaré
que
chegou, gastou todo o dinheiro com bebidas e mulheres, claro. Querendo
continuar na farra (ele quando começava a farrear, durava meses),
procurou
Amaro em seu comércio, solicitando dele um adiantamento de mil
cruzeiros,
referente a primeira prestação. No que não foi atendido, vingou-se
escrevendo uma sextilha
num papel de cigarros, colocando de manhã cedinho por debaixo da porta
do comércio de Amaro, que diz assim, para o nosso deleite:
Caro amigo Amaro Sena
Sei que você tem pena
Da minha situação
Eu sou um amigo raro
Fiz você ficar no claro
E fiquei na escuridão.
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