quarta-feira, 16 de maio de 2012

O poeta boêmio e bonachão Renato Caldas, era funcionário público aposentado pelo Poder Judiciário do Rio Grande do Norte, por onde recebia um miserável salário, apesar da influência que ele tinha com grandes nomes da vida social, literária e política da terra potiguar. Pois bem. Certa vez, sem dinheiro, Renato resolveu vender uma lâmpada Coleman (lampião a querozene muito usado no Nordeste brasileiro, há uns cinquenta anos atrás, nos lugares onde não tinha luz elétrica). Fato este antes comunicado a sua mulher chamada Fausta, que logo se dirigiu ao armazém de Amaro Sena, vizinho a sua casa, para prevenir aquele comerciante que não comprasse o lampião, se Renato chegasse a lhe oferecer. Dito e feito. Renato foi ao armazém de Amaro e, ao chegar naquele estabelecimento comercial, ofereceu o lampião por três mil cruzeiros (moeda da época). "Quero não, disse Amaro". "Homem, me compre!" Com muita insistência Amaro comprou aquele ojeto da seguinte forma: mil cruzeiros avista e o restante em duas prestações (trinta e sessenta dias). Negócio fechado, Renato recebeu os mil cruzeiros e, no primeiro cabaré que chegou, gastou todo o dinheiro com bebidas e mulheres, claro. Querendo continuar na farra (ele quando começava a farrear, durava meses), procurou Amaro em seu comércio, solicitando dele um adiantamento de mil cruzeiros, referente a primeira prestação. No que não foi atendido, vingou-se escrevendo uma sextilha num papel de cigarros, colocando de manhã cedinho por debaixo da porta do comércio de Amaro, que diz assim, para o nosso deleite:


Caro amigo Amaro Sena
Sei que você tem pena
Da minha situação
Eu sou um amigo raro
Fiz você ficar no claro
E fiquei na escuridão.

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