O ENTARDECER LÁ NA ROÇA
de tão bonito que ele era,
- nas cores da primavera
pintava nossa palhoça.
Na estradinha da porteira,
morava a velha paineira
bem em frente à nossa choça.
Feito fios de ouro do sol
o vermelho era trançado,
diziam que era bordado
aquele nosso arrebol.
Era um céu de muitas cores,
cenário de mil amores,
canteiro de girassol!
Passando a língua no coxo,
as vaquinhas no curral,
raspavam resto de sal
deixado pelo boi mocho.
Querendo abrir a tramela,
assanhada, a Sentinela,
cobiçava o potro roxo.
Carregada com seus cachos
a paineira envelhecida,
- pensionato de acolhida,
no aconchego de seus braços,
recebendo a passarada
para mais uma noitada
entre cochilos e “amassos”.
Meu pai olhando o matinho,
sentado no seu pilão,
sem descuidar do gavião
querendo comer pintinho.
Mamãe “banando” feijão,
já eu, cardava algodão,
sentada no meu banquinho.
Nessa tarde quase morta,
ao som de moda caipira,
o meu pai , na alça de embira,
bota o seu chapéu na porta.
Vai pro rabo do fogão,
faz um pito com a mão,
se a palha é seca, que importa?
Minha mãe pega a bacia
esquenta água na fornalha,
põe no cesto a sua malha
que tricota para a tia.
Bota os pés para lavar
logo após já vai deitar
bem longe já vai o dia.
Chega a hora de deitar,
- o momento do rosário,
todo dia nesse horário
a família vai rezar.
- “Bença” mãe e “bença” pai,
cada um pro quarto vai.
O silêncio vai reinar!
O velho colchão de palha
barulhento e bem macio
é muralha contra o frio
naquela casa sem calha.
Todo mundo já deitado
o meu pai mais sossegado
vai pegar água na talha.
Dáguima Verônica de Oliveira
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